André Bueno

CAMINHOS PARA UMA SINOLOGIA BRASILEIRA

O campo dos estudos chineses está se desenvolvendo no Brasil, ainda que de forma tímida. É possível pensar que nos próximos anos – exceto num caso de severo retrocesso acadêmico – o ensino de história asiática conquistará um espaço definitivo na universidade, tal como ocorreu recentemente com a história africana e indígena. Alguns núcleos tem se desenvolvido, e embora dispersos, começam a apresentar produções relativamente singulares. Não existe ainda uma integração maior entre os mesmos; nesse sentido, porém, a realização de eventos e organização de grupos de pesquisa poderá viabilizar a formação de uma rede mais ampla e sólida.

Esse panorama frágil, mas promissor, precisará enfrentar alguns desafios epistemológicos. Deterei-me aqui no caso da Sinologia, minha área principal de estudo. Como o Brasil não desenvolveu uma tradição contínua de estudos chineses, os meios de que dispomos para construir um estudo sobre a China são variáveis. Nossa reação primeira, ao analisar qualquer questão chinesa, é a de empregar traduções e releituras advindas da Europa ou dos Estados Unidos. Esta não é uma atitude absolutamente equivocada, tendo em vista que eles construíram uma experiência sinológica organizada e duradoura; além disso, é natural que nos aproximemos de centros acadêmicos que compartilham teorias e linguagens com as quais estamos mais familiarizados. Todavia, a apreensão que fazemos dessas produções revela nossas deficiências. A escolha dos livros sobre a China que têm sido traduzidos recentemente, por exemplo, demonstra isso. Em sua maioria são publicações recentes, focadas na contemporaneidade, que usualmente ignoram as raízes culturais chinesas. Alguns outros livros e textos são de domínio público – seus direitos são gratuitos, mas em grande parte se constituem de materiais superados. Isso se projeta diretamente na forma que os mesmos são lidos. ‘Sobre a China’ [2013], de Henry Kissinger, é uma demonstração clara dessa dificuldade que os brasileiros sentem em acessar a China. Embora seja uma coleção de memórias e impressões, o livro vem sendo apreciado e empregado massivamente como uma referência em história e cultura chinesa. De certa forma, isso reproduz um expediente já consagrado em nossa cultura, integrando um dos modelos epistemológicos que iremos discutir adiante; mas implica obrigatoriamente em assumir as imensas limitações com as quais teremos que lidar.

Nesse breve texto, iremos apresentar três caminhos possíveis para a construção de um conhecimento sobre a China, ensejando a elaboração de uma estratégia sinológica brasileira. Nossa proposta não é determinante ou conclusiva, mas pretende elaborar um quadro de perspectivas mais amplas sobre as quais poderemos trabalhar.

A China como Modelo
A primeira proposta sinológica que iremos analisar é concepção modelar da China, que entende essa civilização como uma referência a ser copiada ou refutada pela sociedade brasileira. Essa teoria é, com certeza, a mais tradicional em nossa cultura, tendo se desenvolvido desde o século 19. Durante a época do Brasil império, houve um intenso debate acerca da imigração chinesa para o país, substituindo a utilização da mão de obra escravizada. Diversos intelectuais brasileiros se debruçaram sobre a questão, incluindo nomes como Quintino Bocaiúva, Joaquim Nabuco e José do Patrocínio [Lesser, 2001]. Embora o projeto não tenha se realizado, ele marcou o início de uma postura ideológica em relação à China: ela seria análoga ou antagônica a civilização brasileira?

Uma característica fundamental dessa abordagem delineou-se desde o período imperial brasileiro: recorrer a materiais e experiências contemporâneas, para estabelecer um ponto de vista próprio. Não se pressupunha um aprofundamento na cultura chinesa em si, mas de elaborar visões brasilianistas sobre temas e propostas sinológicas.

A China foi continuamente tratada como um modelo civilizacional a ser refutado, sendo vista como atrasada, pobre e não-cristã. Na década de 1950, com a vitória da revolução comunista e a fundação da República da China Popular, esse panorama iria mudar significativamente. Em breves anos, a China retomaria seu lugar entre as potências mundiais, e os caminhos trilhados para alcançar essa posição seriam atentamente observados pelos pensadores brasileiros. Osny Duarte [1956] foi provavelmente o primeiro autor a propor uma analogia entre as questões do desenvolvimento chinês e o brasileiro. Para ele, os projetos de reestruturação da economia e da sociedade chinesas poderiam servir de exemplo para o Brasil, fornecendo experiências seguras para permitir que nosso país se tornasse, também, uma superpotência. Isso fica ainda mais evidente nos trabalhos de Heloneida Studart [1978] e Wladimir Pomar [2009].

Mais recentemente, Gustavo Ioschpe [2012] e Ellias Jabour [2012] participaram de projetos nesse sentido, viajando para a China em busca de experiências.  A ideia da China como modelo é atraente pela possibilidade de se lidar com materiais atualizados, embora em grande parte eles sejam derivados de leituras de segunda mão. A elaboração de missões para o país significa um passo importante na construção de um conhecimento direto, mas que está sempre fadado ao imediatismo de leituras do tempo presente. Já se verificou que é praticamente inviável compreender as opções políticas e sociais chinesas, em longo prazo, sem entender as raízes de sua cultura tradicional.

A proposta modelar coloca em questão as opções intelectuais que a academia brasileira costuma fazer: tradicionalmente eurocêntrica, a ascensão das civilizações afro-asiáticas tem colocado em cheque essa postura, tornando necessário revisar nossos parâmetros teóricos e metodológicos, e discutir experiências alternativas a essa postura tradicional.

Pensar em Ida-e-Volta
A ideia modelar praticada no Brasil nos leva a considerar que, como estamos inseridos numa cultura de matizes diversas [européias, africanas e indígenas], é impossível estabelecer pontos de partida absolutamente deslocados de nossas origens. Por outro lado, a originalidade de nossa civilização permite pensar que no futuro, nossas teorias sinológicas poderão desenvolver formas originais de abordagem.

Nesse sentido, a proposta do sinólogo François Jullien  [2010] surge como uma resposta viável para pensar a China num diálogo mais profundo. Jullien propõe uma estratégia aparentemente simples, mas que depende de um conhecimento mais amplo dessa cultura. A partir dos questionamentos nascidos de nossa própria sociedade, passamos a interrogar a China em busca de respostas e alternativas, mas sem determinar a priori o caráter das mesmas. Há um diferença significativa nesse processo em relação a ideia modelar; não buscamos projetar analogias ou refutações em relação aos questionamentos feitos, mas simplesmente, deixar surgir o conceito chinês que permeia a resposta, abrindo um fio condutor que acessa a sua mentalidade.

O método proposto por Jullien requisita necessariamente certo conhecimento da língua e das formas tradicionais do pensamento chinês, escapando da superficialidade da ideia modelar. Com um acesso mais direto a mentalidade sínica, essa estratégia permite vislumbrar possibilidades epistemológicas inovadoras.

Obviamente, os resultados desse expediente podem ser variados: a resposta para um determinado questionamento pode ser amplamente diferente do que se esperava, o que constitui justamente o caráter inovador e criativo dessa metodologia. No entanto, os alcances epistemológicos podem não se reverter, de imediato, em ganhos de cunho prático ou aplicável. O debate sobre a Medicina Tradicional Chinesa é um exemplo claro do método ‘ida-e-volta’; ela propõe uma verdadeira revolução na abordagem epistemológica do corpo humano, dos meios de prevenção de doenças e dos processos curativos, do ponto de vista Ocidental. Apesar dos inúmeros sucessos que a MTC tem apresentado, ela sofre com uma limitação sistemática de aceitação. O mesmo pode ser dito do pensamento chinês, ocasionalmente refutado pela academia como uma forma de Filosofia.

A estratégia ‘ida-e-volta’ compreende, no entanto, um enfrentamento direto contra os nossos próprios preconceitos, e permite uma expansão criativa de nossas perspectivas teóricas e conceituais. No Brasil, o pensador Leonardo Boff [2012] apresenta um significativo trabalho nesse sentido, discutindo a questão ecológica contemporânea relacionada a conceitos chineses antigos, como Caminho [Tao] e Harmonia [He], a partir de uma leitura Daoísta.

A Chinesidade de Tu Weiming
O intelectual chinês Tu Weiming [1991] propôs que, no contexto contemporâneo, o sentido de ‘ser chinês’ se constitui em um paradigma em expansão e transformação, tendo em vista o fenômeno da globalização e da diáspora chinesa. A construção dessa identidade chinesa compreende a formulação de uma série de postulados ou condições que apontam para uma ‘essencialidade’ sínica, a sua ‘Chinesidade’.

Com base nesse axioma, a compreensão da visão chinesa a respeito do mundo constitui um ponto de partida próprio – e para acessá-lo, é necessário apreender justamente o que é essa ‘Chinesidade’. Como uma via sinológica, esse caminho pressupõe, portanto, uma imersão cultural, produtora de um conhecimento desvinculado do sentido ‘prático ou aplicável’ da visão modelar. Busca-se aprender a China pela China, numa perspectiva antropológica específica.

Poderíamos nos questionar se a busca dessa ‘Chinesidade’ não seria, em última instância, inacessível ao não-chinês; mas admitir isso seria negar qualquer forma válida de Humanismo e diálogo intercultural, o que vai em descordo com a ideia básica de conhecer o ‘outro’. A Sinologia seria, então, uma ‘ciência’ externa ao próprio objeto de estudo, incapaz de atingir o cerne da Chinesidade e, por conseguinte, elaboradora de interpretações [e mesmo, fantasias] sobre a China.

Um estudo pelo viés da Chinesidade naturalmente contesta nossos pressupostos para investigar a China: ao iniciar um estudo sobre ‘religião chinesa’, ‘arte chinesa’ ou ‘pensamento chinês’, implicamos acidentalmente em buscar elementos não –chineses no seu contexto [‘religião, arte, filosofia’], mas podemos gradualmente acessar o que se aproxima de nosso conceitos ou áreas de saber. O trabalho pioneiro de Ricardo Joppert [1979] no sentido de compreender a China em suas matrizes culturais é um exemplo notável dessa perspectiva.

Mais: como a própria ‘Chinesidade’ é um processo em transformação, e que recebeu historicamente a contribuição de várias culturas, ela pressupõe a existência de links possíveis entre a cultura chinesa e a diversidade. Ou seja: o que, ao longo dos milênios, pode ser redimensionado na formação das culturas mundiais mediante o impacto da civilização chinesa?

Até o século 18, como Jack Goody [2009] demonstrou, civilizações como a China estavam no topo da produção econômica e tecnológica do mundo. A Chinoiserie é um efeito claro dessa influência mútua no curso da história. Assim, a compreensão da Chinesidade, enquanto um mergulho na especificidade da cultura chinesa, possibilita reestruturar nossa compreensão não apenas sobre a China mas sobre a própria história mundial.

Conclusões possíveis
As três propostas apresentadas contemplam objetivos relativamente diversos em relação à Sinologia. Dessa avaliação, depende o futuro tanto de sua estruturação quanto do seu desenvolvimento e ensino.

A via modelar, de cunho pragmatista, envolve razões estratégicas de curto prazo, além de efeitos de cunho prático em termos de políticas públicas [econômicas, culturais, etc.]. Em resposta a demandas contemporâneas, ela pode ser a abordagem mais imediata, mas sem um planejamento posterior, ela se sujeitará sempre a condição de superficialidade e imediatismo, além da dependência de outros centros produtores.

Tanto a abordagem ‘Ida-e-volta’ como a ‘Chinesidade’ aproximam-se nos seus requisitos: domínio da língua, instrumental para o diálogo intercultural, conhecimento da história e cultura chinesa. Seus desenvolvimentos, porém, investem em dois pontos fundamentalmente diferentes: no primeiro, buscamos a China para, de certo modo, nos aperfeiçoarmos, elaborando formas novas de conhecimento a partir de uma epistemologia própria e criativa. Pressupomos a ‘diferença’ no trato com a China. Na via da ‘Chinesidade’, a alteridade é o ponto de partida, mas que enseja uma aproximação e uma assimilação daquele que é diverso. Nesse sentido, o próprio sentido da diferença é valorizado, mas ao mesmo tempo, serve como um elemento enriquecedor numa abordagem sinológica. Essas duas vias, no entanto, carecem de uma objetividade direta, elemento que tem sido ressaltado no planejamento educacional atual.

As escolhas que serão feitas na estruturação de uma futura Sinologia Brasileira dependerão, portanto, dos pontos de vista políticos e culturais envolvidos em seu nascimento. As experiências já realizadas têm carecido, justamente, de um projeto de continuidade, representando uma nova fronteira a ser desbravada no conhecimento acadêmico nacional.

Referências
André Bueno é professor adjunto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro [UERJ]. É o fundador do Projeto Orientalismo, de difusão e pesquisa em História e Cultura Asiática na rede. É membro da Associação Europeia de Estudos Chineses e da Associação Europeia de Filosofia Chinesa; Colaborador no Laboratório de Estudos da Ásia [LEA] da USP; membro do grupo Leitorado Antiguo [UPE]; membro do Alaada - Associação Latino Americana de Estudos Asiáticos; membro da Rede Iberoamericana de Sinologia [Ribsi]; membro do LHER - Laboratório de Experiências Religiosas da UFRJ; membro do Council for Research in Values and Philosophy (CRVP); membro do projeto Re-Learning to Be Human for Global Times: The Role of Intercultural Encounters (Iasi, Romênia)

BOFF, Leonardo e HATHAWAY, Mark. O Tao da libertação. Petrópolis: Vozes, 2012.
BRAGA, Humberto. O Oriente é Vermelho. São Paulo: Círculo do Livro, 1982.
DUARTE, Osny. A China de hoje. Rio de Janeiro: Pongetti, 1956.
DUARTE, Osny. Nós e a China. Rio de Janeiro: Pongetti, 1956.
GOODY, Jack. O roubo da História. São Paulo: Contexto, 2009.
IOSCHPE, Gustavo. A Educação Chinesa, 2012. Disponível em: https://veja.abril.com.br/educacao/brasil-deveria-aprender-com-a-china-o-valor-do-sistema-baseado-no-merito/
JABBOUR, Elias. China hoje: projeto nacional, desenvolvimento e socialismo de mercado. São Paulo: Anita Garibaldi, 2012.
JOPPERT, Ricardo. O Alicerce Cultural da China. Rio de Janeiro: Avenir, 1979.
JULLIEN, François. Pensar a partir de um fora (a China).  Revista Periferia, v. 2, n. 1, jan./jun. 2010.
KISSINGER, Henry. Sobre a China. São Paulo: Objetiva, 2013.
LESSER, Jeffrey. A invenção da brasilidade: identidade nacional, etnicidade e políticas de imigração. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
POMAR, Wladimir. China, desfazendo mitos. Publisher Brasil, 2009.
POMAR, Wladimir. O Enigma chinês. São Paulo: Alfa-Ômega, 1987.
STUDART, Heloneida. China – o Nordeste que deu certo. Rio de Janeiro: Novo Tempo, 1982.
TU, Wei Ming. Cultural China: The Periphery as the Center. Daedalus, Spring 1991.

32 comentários:

  1. Caro André Bueno,
    Parabéns pelo excelente texto. Como sempre, sua leitura é muito instigante.
    Você disse, sobre a abordagem "ida-e-volta", amparado em Julien: "A partir dos questionamentos nascidos de nossa própria sociedade, passamos a interrogar a China em busca de respostas e alternativas, mas sem determinar a priori o caráter das mesmas".
    Pensando numa possível aula de ensino superior, por exemplo, em um curso de Filosofia ou História, em que tivesse como temática a ser abordada o ensino da cultura e pensamento chines, poderia dar exemplos de como você instigaria os estudantes a desenvolver questões sobre China e suas culturas, a partir dos questionamento próprios de nós brasileiros/as?
    No mesmo sentido, o que seria, atualmente, para você, um exemplo de "questionamentos nascidos de nossa própria sociedade" brasileira?
    Obrigado! Seguimos em diálogo.
    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Matheus! Fico feliz com dua presença aqui no evento! =)
      Agradeço suas perguntas, e vamos lá:
      -Por 'questionamentos nascidos em nossa sociedade', interpreto como aqueles que, de alguma forma, os brasileiros entendem ou pensam que são questões suas - quando de fato, em comparação com outras sociedades, percebe-se a identidade de problemas, ou de respostas.
      -Daí a ideia de ida-e-volta; numa sala de aula, por exemplo, podemos iniciar esse processo fazendo um deslocamento, colocando em questão situações que, aparentemente, todos achariam que seriam próprias do Brasil e/ou Ocidente. Desde situação triviais até questões conceituais, pode-se antes apresentar uma versão chinesa, para causar o 'espanto' e depois, colocar em debate se isso nos é conhecido ou não.
      Nesse processo,em que se encontram identidades e divergências, se produz um conhecimento sobre a diferença, mas que se transforma em material utilíssimo a reflexão. =)
      grande abraço!
      André

      Excluir
    2. Obrigado! Eu quem fico feliz em participar.
      Ficou mais claro a proposta.
      Seguimos em diálogo.

      Excluir
  2. Não pude deixar de notar o otimismo sobre o futuro dos estudos orientais no Brasil, essa esperança também é abordada em outros textos que tive a oportunidade de ler por aqui e para mim isso é maravilhoso, confesso que tenho pouca experiência e pouco contato com o tema que para mim ainda é estranho, acredito que hoje ainda enxergamos não só a China, mas todo o oriente como um lugar bastante exótico e apenas isso, espero que no futuro possamos superar essa visão simplista. Sobre o texto você diz sobre como a China foi durante algum tempo para nós brasileiros um modelo a ser refutado “pobre e não-cristã”, mas atualmente pesquisadores trabalham com a ideia da China ser um modelo a ser seguido pelo Brasil, quais adjetivos seriam empregados atualmente para se referir à China nessa perspectiva de modelo a ser seguido?

    Denis Garcez de Oliveira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Denis, obrigado por sua pergunta!
      Não penso que seja fácil definir... A China, já faz um bom tempo, é usada por pensadores brasileiros como modelo. Da perspectiva teórica do qual eles partem é que a China pode ser um bom ou mau modelo... Prefiro pensar que a China é, para nós: a) uma realidade mundial a ser aceita, e não ignorada; b) um quadro de experiências que podemos avaliar sim, e usualmente incorporar, mas tendo em vista nossas questões culturais; c) um campo intelectual e historiográfico a ser cuidadosamente analisado, tendo em vista suas ricas tradições nesse sentido, que podem contribuir na nossa própria formação.
      grande abraço!

      Excluir
  3. Parabéns pelo seu texto, eu claramente acho muito importante nós que estamos acostumados a estudar somente a história europeia termos a chance de poder ver o lado oriental da história.
    Ano passado tive a chance de fazer uma matéria chamada ‘’História da Ásia’’, eu era calouro no curso de História e para mim foi maravilhoso e enriquecedor poder estudar a história por outra visão completamente diferente do que eu estava acostumado a estudar.
    É claro que penso que não só o estudo da China mas sim de todos os países do ocidente podem nos trazer maiores conhecimentos .
    A cultura oriental é muito rica em vários aspectos e além disso países com a China conseguiram se destacar como uma das maiores potências do mundo. Eu não sabia que a China já era usada como modelo por pensadores brasileiros.
    Gostaria de saber por quais motivos ela ganhou esse destaque e maior atenção dos estudiosos e quais são as maiores barreiras que o estudo do Ocidente enfrenta hoje? É o desinteresse das pessoas pelo tema?
    Abraços,
    Gabriel Roberto Santi

    ResponderExcluir
  4. Caro Gabriel, tudo bem?
    O desinteresse pela China é sistemático em nossa academia. Infelizmente, a área de História tem sido negligente com os estudos afro-asiáticos, só melhorando recentemente com a implantação de leis que estimulem o desenvolvimento desses campos de conhecimento [sendo específico, no caso do ensino de história da África, pois a Ásia continua sendo optativa em todos os currículos]. Isso gera aquele efeito: ninguém se interessa porque não se estuda, e ninguém estuda porque não há interesse...Ora, essa é uma questão que a própria realidade está forçando a revisar. É inviável - a não ser que queiramos formar ignorantes - deixar de lado os estudos sobre mais da metade do mundo existente. Daí a necessidade de empreendermos algo nesse sentido - e desenvolver uma abordagem que possa vir a enriquecer nosso conhecimentos sobre as civilizações asiáticas. =)
    grande abraço!
    André Bueno

    ResponderExcluir
  5. Obrigada pelo excelente ensaio em relação aos estudos chineses no Brasil. A minha pergunta é em relação a diáspora chinesa no Brasil, qual das abordagens indicadas no texto,seria a mais adequada para se pesquisar imigração chinesa no Brasil no tempo presente?
    Raphaela Martins

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara Raphaela, tudo bem?
      No caso específico da imigração chinesa atual, a visão de Tu Weiming tem sido bastante utilizada. Tu entendia que a 'chinesidade' era uma elaboração contínua, que envolvia a manutenção x adaptação da identidade chinesa em novos ambientes culturais.
      grande abraço,
      André

      Excluir
  6. Lendo o seu texto, surgiu uma duvida em relação ao tipo ideal de livro que deveria ser ofertado para os estudantes da educação básica?
    Daniele G. Skorupa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Daniele! Obrigado por sua pergunta!
      Pensando no ensino básico: todo livro didático é uma escolha de temas, no que envolve desde o conteúdo até a metodologia de trabalho e apresentação. Isso significa que o livro 'ideal' ainda está por ser feito, e penso mesmo, que por melhor que ele seja, deve se transformar ao longo do tempo. O que podemos ver de imediato são suas ausências: muito pouco sobre a Ásia, menos ainda sobre uma visão global de mundo. Se isso não mudar, aí sim, estaremos presos numa versão estrita e limitada de história. =)
      André Bueno

      Excluir
  7. Primeiramente o parabenizo pelo texto impecável, André Bueno! A questão chinesa é algo que merece sim algum destaque na história e creio que na educação em um conceito geral. Partindo disso, para você, como se pode introduzir essa sinologia no contexto brasileiro de educação e quais meios você acha mais viável para tal?

    Grata,

    Beatriz da Silva Mello.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Beatriz, obrigado por sua pergunta!
      A Sinologia, como campo de estudos, tem várias interfaces interdisciplinares. Penso que a limitação está, de fato, no campo da História e da Filosofia. Os estudiosos de artes, por exemplo, estudam a 'arte chinesa', sem preocupar-se com as denominações de origem; o mesmo pode ser dito de RI, de economia, gastronomia, etc.
      Assim sendo, o trabalho de trazer a discussão sobre a China nos meios educativos se constrói em três níveis:
      -introduzir questões sinológicas na academia [analisar a 'história e a historiografia chinesa' em história; a 'educação chinesa' em educação, etc]
      -construir saberes sinológicos
      -vulgarizar esse conhecimento nos mais diversos níveis.
      Mas note que hoje vivemos dois problemas fundamentais para isso:
      1) a academia não está construindo esse saberes, e muito menos vulgarizando-os [e quem o faz é mal-visto]
      2) os produtores de materiais didáticos e de livros de ocasião já estão atuando nessa lacuna, publicando os mais variados tipos de materiais.
      O que vejo, pois, é que a atuação ´seria e constante é que, gradualmente, irá institucionalizar o trabalho com história asiática e depois, lhe dar uma orientação mais segura. Enquanto isso, em bom 'brasileiro', 'vamos fazendo o que dá'. =)
      André Bueno

      Excluir
  8. Dizer que o campo dos estudos chineses tem se desenvolvido timidamente no Brasil é uma forma singela de tratar um assunto muito importante, tendo em vista que no Brasil pouco tem se investido ou se proporcionado estudos acerca do oriente ou do continente africano, desta forma gostaria de saber o que em seu ponto de vista, você entende como possível ocasionador deste problema e quais as possíveis soluções para corrigi-lo.

    Alessandro Lopes Campelo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Alessandro, obrigado por sua pergunta.
      O problema em si é histórico, e parte de nossa visão elitista sobre ensino e educação.
      Sobre os meios de vulgarizar esse conhecimento, veja minha resposta anterior para Beatriz.
      grato! =)
      André Bueno

      Excluir
  9. Bom dia!
    Muito interessante seu texto. Gostaria de saber como a imigração chinesa no Brasil, principalmente em São Paulo, pode contribuir com os estudos dessa cultura no Brasil?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Benedito,
      obrigado por sua pergunta.
      O estudo da imigração sempre envolve um processo de assimilação, integração e manutenção de identidade. Com certeza, a presença dessa comunidade imigrante é uma fonte rica de estudos, contanto que ela não seja guetificada ou circunscrita - e infelizmente, o Brasil de hoje está bastante dividido entre os favoráveis aos imigrantes e aqueles que defendem um receio xenofóbico.
      É possível que, em breve, tenhamos especialistas sino-descendentes capacitados a desenvolver esse campo no Brasil, tal como ocorre na Europa e EUA. Por outro lado, isso não exime a que os brasileiros necessitem estudar e desenvolver esse campo - sem o que, continuarão sua eterna dependência epistemológica e estratégica.
      grato,
      André Bueno

      Excluir
  10. O estudo da China é de extrema importância para o Brasil, ainda mais quando vemos o ressurgimento do "império" chinês. Acho que o mínimo a começar a fazer é colocar o estudo do país de maneira obrigatória nos cursos de história e, posteriormente, introduzir o tema no ensino básico, cito ainda a importância da Índia e a Rússia também; precisamos diminuir o ocidentalismo e olharmos para outros povos e culturas diversas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De fato Alberto. estamos testemunhando, simplesmente, o retorno de potências históricas. Ignorar esse fato é incorrer numa posição cultural e geopolítica absolutamente limitada e mesmo, imprudente.
      André Bueno

      Excluir
  11. A língua, nessa situação, poderia ser um problema preocupante? Levando em consideração certa escassez de produções brasileiras sobre o tema, o ideal seria buscar da fonte, mas com tantos dialetos e 30% da própria população chinesa não falando o idioma oficial (reportagem de 2013), não seria ainda mais complicado para brasileiros? Ou qual outra parte do processo de adequação você considera mais complicada?

    Natália Maira Cunha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara Natália,
      Embora os chineses tenham pronúncias diferentes, a língua escrita é a mesma. Isso garante um potencial universal para o entendimento da língua chinesa, diferente das línguas alfabéticas. Se aprendermos a ler o chinês, teremos acesso a essas fontes de forma direta. Isso, entendo, é parte da solução. =)
      André Bueno

      Excluir
  12. André, bom dia.
    Algumas questões sobre o tema:
    Inicialmente no texto, você diz que as fontes são da Europa ou EUA para releitura e traduções advindas de lá. Não há fontes confiáveis de regiões próximas à China, como Japão, que tratem da História chinesa, antiguidade e costumes que também poderiam ser utilizadas?
    Outra questão é sobre a compreensão política e social chinesa estar diretamente atrelada a sua cultura. Por mais que se tente entender ou buscar os caminhos para chegar a um destino semelhante, o Brasil também não teria como se afastar de suas raízes culturais para construção de políticas sociais, econômicas etc. O que você acha?
    E por fim, ao citar a "essencialidade chinesa", mergulhar mais a fundo para entender e compreender a "vida" chinesa, percebe-se que a diversidade de culturas contribuíram para aquela formação, muito semelhante com a nossa (europeus, africanos, indígenas, asiáticos) e me questionei se o Brasil também não estaria no mesmo processo de transformação de uma "brasilidade" que se discute há anos. O que você pensa? Há uma analogia ou a mesma comparação?
    Fabiano Pio da Silva

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Fabiano,
      agradeço a pergunta.
      Temos fontes das mais diversas, mas temos feito opções pelas mais 'acessíveis' [isso é, em línguas mais familiares], em detrimento do mínimo esforço de aprender um novo idioma e acessar diretamente as fontes. Isso tem sido uma opção histórica, mas hoje já mostra não ser mais suficiente.
      No mais, penso que não precisamos e nem devemos deixar de lado nossas raízes culturais, mas sim, expandir nossos horizontes de visão. A própria noção de brasilidade passa por essa busca e transformação - mas, os chineses se entendem uma civilização há milênios, e nós temos 500 anos. Nisso vai um sentido de identidade mais longínquo e assentado, o que releva certas diferenças. O Brasil, ainda é autêntico como construção cultural e de uma diversidade toda própria. Nisso, o estudo de outras identidades pode contribuir para a compreensão de seus processos de formação, o que sempre é um ganho epistemológico.
      André Bueno

      Excluir
  13. O aprofundamento do estudo sobre a ciência da história, da língua, da escrita, das instituições e dos costumes chineses, ou sinologia, é muito importante, já que mesmo havendo desenvolvimento em pequena escala no Brasil, qual seria o caminho, para este estudo não passar por um retrocesso acadêmico, nas universidades e nos cursos de História?

    ResponderExcluir
  14. Oi Lucas, já respondi essa pergunta lá em cima. =)
    abraço!

    ResponderExcluir
  15. Qual a influencia desta cultura na educação brasileira e nos costumes? Tem algum costume popular?

    Carlos Ryan silva de Araujo

    ResponderExcluir
  16. olá Bom dia professor André Bueno!
    Primeiramente parabenizo pelo trabalho, percebo que enquanto graduanda do ensino de História me fez refletir que o não acesso ao conhecimento da China nos traz um deficit de compreensão historiográfica. É possível compreender a historiografia Chinesa através da sinologia? Como a mesma pode facilitar esse conhecimento?

    Atenciosamente,
    Fabiane Medeiros Cabral

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Fabiane,
      obrigado pela pergunta.
      Uma das questões fundamentais propostos pelo aspecto histórico da Sinologia é apresentar e discutir a historiografia chinesa. Os chineses desenvolveram suas próprias teorias e métodos de escrita histórica, que podem contribuir bastante em nossa compreensão e reflexão sobre a produção de narrativas e conceitos.
      André Bueno

      Excluir
  17. BOA TARDE PROFESSOR
    Parabéns pelo trabalho muito rico.
    Gostaria de saber porque a China uma das grandes potências econômicas, ainda tem um grande déficit, relacionados ao trabalho escravo e a pobreza no país.

    IASNAIA LUCIANA DE ARAÚJO SANTOS

    ResponderExcluir
  18. Olá, André Bueno, não pude deixar de notar que o senhor mencionou que acabamos por nos basear em interpretações de segunda mão, leituras baseadas em perspectivas de autores de outros países - além de, na maioria das vezes, lemos traduções - porém, acredito que nossos leitores acabam lendo interpretações de terceira mão, pois acabando colocando nossas perspectivas no texto.
    Desse modo, o senhor acha que que lermos textos em chinês, ou, numa perspectiva menos otimista, lermos traduções mais fiéis ao texto original, diminuiria nossas dificuldades e, desse modo, tentar fugir das interpretações de segunda mão?

    ResponderExcluir
  19. Boa tarde professor André. Sou graduado em História e em meu TCC trabalhei as relações sino-lusitanas no século XVI, e inclusive utilizei textos seu na formulação do meu trabalho, então, fico muito feliz em poder dialogar com você nesse simpósio.
    Como é de conhecimento de todos, há uma grande e importante diferença nas produções de acordo com quem as escreve. Edward Said tratou de forma brilhante essa questão. Desse modo, ao escrever minha monografia, tomei um grande cuidado na utilização das fontes, afinal, como eu estava trabalhando um fato histórico da qual envolve dois povos com perspectivas que são muitas das vezes diferentes, tive cuidado especial em utilizar fontes chinesas, até porque são menos conhecidas do público ocidental.
    O seu artigo traz três abordagens para uma sinologia brasileira, entretanto, como aqui a sinologia ainda é muito pequena e esta em fase de nascimento ou crescimento se considerarmos com outros países, esses mesmos pesquisadores brasileiros irão de deparar com esse obstáculo do acesso às fontes chinesas, e possivelmente, farão uma sinologia à la "orientalista", como Said bem explicou.
    Dessa forma, minha dúvida é sobre qual a importância você vê nesse trato das fontes chinesas para uma historiografia não unilateral e de que forma o pesquisador brasileiro pode ter acesso a elas ou uma forma de contornar, considerando que poucos desses brasileiros tem domínio sobre o idioma chinês.

    Att,
    Leonardo Oguido Tirloni

    ResponderExcluir
  20. Boa Noite!

    André, de maneira geral a China foi, por muito tempo, ignorada pelo Brasil e pelos brasileiros. Quando se falava em chineses, o que mais vinha a nossa mente era a figura caricata do típico chinês (aquele de roupa vermelha, com chápeu de palha, etc...) ou de lutador de Kung Fu. Outra imagem também vinha a nossa mente, que é aquela do chinês dominado pelos seus governantes. De repente (ou não), vemos a China como um dos "players" mundiais, dominando diversos mercados e até mesmo comprando e tomando conta de muitas atividades comerciais na Europa, e até mesmo no Brasil (presentes nos leilões de Energia Elétrica, querendo comprar terras na Amazônia, etc...). Será que não foi dado o devido valor à História dos chineses, e a formação de sua cultura? Ignoramos e agora podemos ser "engolidos" por essa cultura? Qual a saída para esse imbróglio?

    PAULO ROBERTO PICKLER
    prp3006@gmail.com

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.